Publicado em: 16/10/2022
MITOS E VERDADES DO COLÁGENO PARA CARTILAGEM DO JOELHO
Quem nunca recebeu um SMS ou um e-mail dizendo que
suplementos de colágeno estão em oferta em determinada farmácia?
Quem nunca viu uma propaganda na TV enumerando os benefícios
milagrosos da suplementação diária de colágeno?
Isso seria verdade, ou seria a galinha dos ovos de ouro da
indústria farmacêutica?
MAS, AFINAL, O QUE É
O COLÁGENO?
Segundo alguns estudos, o colágeno é a proteína mais
abundante do corpo humano. Sendo responsável por aproximadamente 25% da massa
proteica, pode ser encontrado na pele, músculos e tendões.
Nos últimos anos, essa proteína tem ganhado muita atenção na
mídia devido à sua possibilidade de melhoria intestinal, envelhecimento da
pele, ganho de massa óssea e a saúde das articulações.
Existem muitos tipos diferentes de colágeno e cada um teria
sua própria função biológica. Até o momento, mais de 29 tipos diferentes de
colágeno foram identificados, sendo os tipos I, II e III os mais prevalentes no
corpo humano.
Como se trata de uma proteína, o colágeno é composto de
aminoácidos como glicina, lisina e prolina. Células especializadas chamadas
fibroblastos desempenham um papel fundamental na síntese de colágeno. Eles
atuam incorporando esses aminoácidos em fitas complexas para criar a molécula
básica de colágeno.
Esta molécula básica então sofre mais ligação, reticulação e
dobramento dependendo do tipo final de colágeno que está sendo produzido. É
importante observar que a vitamina C é um cofator essencial nesse processo e,
portanto, segundo alguns estudos, baixos níveis dessa vitamina podem prejudicar
a produção de colágeno.
Modelo |
Localização |
Tipo I |
Derme, tendão, ligamentos e osso |
Tipo II |
Cartilagem, corpo vítreo (no olho), núcleo pulposo (núcleo
interno do disco vertebral) |
Tipo III |
Pele, parede do vaso, fibras reticulares da maioria dos
tecidos |
Conforme mencionado, 29 tipos de colágeno foram
identificados até o momento, com 80-90% deles pertencendo aos tipos I, II e
III.
COLÁGENO TIPO II E AS
ARTICULAÇÕES
A cartilagem articular é um tecido altamente especializado
com abundante material extracelular, que constitui a matriz rica em água,
proteoglicanos e colágeno tipo 2. Estes formam um grande colchão, cuja função
está na absorção do impacto e melhor distribuição dele nas articulações.
FONTES DE COLÁGENO
TIPO II
O colágeno pode ser encontrado em ovos, frango, carne e
caldo de ossos. A capacidade do corpo de produzir colágeno diminui
naturalmente com a idade em até 1% de redução ao ano. Assim, o colágeno
suplementar tem sido investigado como uma possível forma de atenuar os efeitos
desse declínio. Mas, será verdade?
SUPLEMENTOS DE
COLÁGENO HIDROLISADO E NÃO HIDROLISADO: QUAL É A DIFERENÇA?
Suplementos de colágeno seriam enquadrados nos chamados
nutracêuticos, alimentos e componentes alimentícios com apelos médicos ou de
saúde. No caso, o colágeno tipo 2 teria efeito de evitar a degradação
cartilaginosa, conhecida como Condropatia em estágios iniciais e
artrose ou osteoartrose em estágios mais avançados.
Existem três tipos principais de colágeno disponíveis como
suplementos: gelatina, colágeno hidrolisado e colágeno não desnaturado. Quando
o colágeno é fervido por um período significativo de tempo (como no caldo de
osso), a gelatina é produzida. Quando este é posteriormente decomposto ou
“pré-digerido” em seus peptídeos de aminoácidos, o colágeno hidrolisado é
criado. Por outro lado, o colágeno não desnaturado, frequentemente referido
como UC-II, não é decomposto.
MAS, SERÁ QUE O
COLÁGENO TIPO 2 INGERIDO CHEGA NAS ARTICULAÇÕES?
Alguns estudos mostram que, no processo de digestão dos
colágenos, a quebra de sua longa molécula resulta em várias pequenas moléculas,
ricas em aminoácidos, como a lisina, prolina e hidroxiprolina, que são
retiradas do sangue por células geradoras de diferentes tipos de tecido. Mas
não existe nenhuma evidência que cheguem e sejam usados no tecido
cartilaginoso.
UC-II
Como não é decomposto, esse colágeno não desnaturado é
insolúvel. Como tal, seu principal modo de ação seria baseado na modulação
imunológica.
Diversos estudos mostram que o UC-II não fornece substrato
para construção e criação de cartilagem. Como apenas pequenas quantidades desse
colágeno podem ser absorvidas, uma dose baixa entre 20-40 mg por dia é
recomendada.
PEPTÍDEOS DE COLÁGENO
O colágeno hidrolisado tipo II foi desenvolvido
especificamente para a saúde das articulações. Composto por sulfato de
condroitina e ácido hialurônico, tornando-o idêntico à composição da cartilagem
em humanos.
Estudos com nível de evidência I, sem o patrocínio da
indústria farmacêutica, não comprovam sua eficácia. A melhoria de dor e
flexibilidade que gira em torno de 30% dos indivíduos seria superior à
suplementação via oral por glicosamina e condroitina e teria efeito semelhante
ao placebo dado nestes estudos.
EFEITOS COLATERAIS DO
COLÁGENO TIPO 2
Efeitos colaterais descritos incluem náusea, azia, diarreia
e prisão de ventre, sonolência, reações na pele e dor de cabeça.
O QUE DIZEM AS
SOCIEDADES MÉDICAS?
As sociedades internacionais de estudo de cartilagem como
a ICRS e OARSI são enfáticas em dizer que, pela falta
de evidência científica, seu uso deve ser racional:
- Nunca
como monoterapia, ou seja, não adianta você só tomar a medicação
isoladamente;
- Deve
ser descontinuado, caso não haja melhoria de dor e flexibilidade após 6
meses de uso.
- O
mais indicado é a Viscossuplementação articular, através da infiltração
direta.
O QUE EXISTE EM
EVIDÊNCIA CIENTÍFICA NO TRATAMENTO DE CONDROPATIAS ?
Inúmeros estudos apontam resultados de excelência em medidas
como:
- Controle
de peso;
- Prática
esportiva moderada regular;
- Fortalecimento
muscular;
- Melhoria
da qualidade do movimento;
- Técnicas
de reabilitação como a fisioterapia, hidroterapia, pilates;
- Infiltração
articular (VISCOSSUPLEMENTAÇÃO COM ÁCIDO HIALURÔNICO.
OPINIÃO DO AUTOR
Minha opinião é de que pela falta de evidência científica,
pelo fato de nunca ter atendido ninguém que me relatasse melhoria pelo uso de
nutracêuticos de maneira isolada (nível 5 de evidência), pelo alto custo destas
medicações e suplementos em território nacional e pela possibilidade de poder
estar estimulando transtorno hipocondríaco em meus pacientes, tenho optado pela
NÃO PRESCRIÇÃO.
Obviamente, se estudos futuros me mostrarem o oposto, poderei
mudar de opinião, o que realizo no consultório é a Viscossuplementação com
ácido hialurônico através das injeções intra-articulares. Que tem dado muito
resultado positivo na vida dos meus pacientes.